Resenha 2 cabeças: Bacurau, o cinema nacional diferente
Olá pessoal
O filme do ano, a grande movimentação de público comum em nome de uma obra nacional, temos Bacurau que foi o auge do cinema com a produção em tempos de crise. A analise tem um aspecto social e outro cinematográfico com uma visão menos emocionada do que foi o momento do lançamento.
A produção em parceria com uma produtora Francesa, Direção e roteiro assinado pela dupla Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, apostaram em gêneros que poucos explorados no Brasil como o Faroeste, suspense e com a contextualização do drama num cenário que todos conseguem enxergar, o interior do nordeste que é o conceito universal do meio do nada, o povoado isolado. Alternando recortes da vida comum com o modo de ação de um clima de confronto e necessidade de defesa, constrói nos rostos nordestinos uma identidade contra o elemento estrangeiro, de fora do local, como a tensão que envolve o desenvolver da trama.
O impacto social deste filme foi o fenômeno mais interessante desde o lançamento de Tropa de Elite, pessoas protegendo o enredo do filme dos amigos e fazendo campanha para os outros irem no cinema, uma verdadeira onda para aumentar os números dele nas bilheterias. As pessoas se apegaram a importância das mensagens que Bacurau carrega em relação a crise da democracia, a violência e o mais importante que é o sentido de resistência popular com a fantástica parte final.
Partindo para o lado cinematográfico do texto, o ritmo é uma chave da boa execução do roteiro, os momentos lentos tem seu significado na visualização do cenário, a cidade fictícia de Bacurau, e as partes que ele se desloca para narrar uma história paralela com os gringos, ações rápidas e violentas com sangue na tela. As duas horas de filme tem uma característica de conseguir colocar as visões diferentes, narrativas que se contrapõem no mistério que dura até o quarto final de filme.
O elenco é um ponto interessante, a construção de uma unidade visual com o conjunto de traços absolutamente comuns que se somam para dar credibilidade na parte do povoado. A reprodução da identidade nordestina que vive no ambiente árido e tem essa cultura de resistência começando pelo meio que vive, o elemento de localidade não é o principal ,mas faz parte dos integrantes que compõem o sucesso nas bilheterias.
Os traços históricos são outro destaque, a existência do museu como os itens dele retratam um passado e um presente de que aquele povo tem algo de diferente de uma cidadezinha inocente no interior de Pernambuco. A guerra, os recortes de jornal, a rejeição política ao prefeito, os olhares desconfiados aos forasteiros fazem com que entendamos que ocorre um contexto paralelo de longa data para estas poucas famílias com a estrutura simples de um posto médico, um museu, um sistema de som e uma igreja, além de casas sem muitos detalhes.
Um aspecto que não esta diretamente ligado ao longa, o conceito de cidades de papel como cidades fantasmas e criadas por cartógrafos para identificar seus trabalhos autorais. O vilão do filme tem a missão de fazer apagar uma cidade do mapa, transforma-la em um punhado de casas vazias e isso nos leva ao conceito geográfico, Bacurau é um lugar que foi posto a prova em resistência pelo menos duas vezes na sua história.
As palavras que definem o filme são Irreal, surpreendente e cotidiano, a união destes três palavras faz sentido com uma boa leitura do texto e das reviravoltas. A suspensão voluntária da descrença é o efeito de entrar em um longa que parece banal e a entrada do elemento externo com uma força avassaladora, no entanto tem um efeito de recorte de dia a dia com calma e uma narrativa silenciosa na tela, tudo isso se conjunta para ser o mais interessante lançamento do ano.
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É isso, pessoal
Até a próxima
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Grato , blog 2 cabeças viajantes