Coluna Amarela #2: 3 textos sobre identidade amarela no Brasil, a provocação.


 

 Olá pessoal 

Os textos a seguir foram compostos para uma coletânea em outras plataformas, muitos mais sérias e entretanto como o mercado editorial não adota o discurso no tom proposto, esta publicação vem colocar a público uma discussão importante para a  comunidade japonesa ou de todas as orientais que estão no Brasil. É necessário discutir identidade, nome racial e representatividade em um país que produz um meio cultural rico e ao mesmo tempo negligente com os profissionais descendentes de japoneses, coreanos, chineses e etc. Essa leitura é um incentivo ao pensamento sobre o que se imagina e o que é ser um asiático brasileiro ou Brasileiro Asiático, nesta terra tupiniquim. 

Textos/Artigos 

Os “amarelos” do Brasil, o limbo do Asiático Brasileiro.

 

O começo deste texto que faz parte de uma trilogia que vou chamar de “textos para refletir sobre raça e xenofobia contra asiáticos no Brasil”, vem falar de uma percepção silenciosa e cruel sobre a existência que é permeada dos diversos obstáculos de imagem, personalidade e socialização baseada em estereótipos tanto positivos quanto negativos sobre um traço: os olhos puxados, levando em conta que os outros povos marcantes da Ásia são tratados de forma diferente: Oriente médio tem o peso da cultura Árabe e o Islã, Indianos são um povo “exótico” e os russos e turcos se consideram historicamente europeus apesar de boa parte de seu território pertencer a Ásia.

Voltando ao foco, o ponto é que o demarcado Asiático é a conjunção de povos amarelos do leste asiático, englobando da Indochina e o Japão no recorte geográfico. O que foi admitido é que nesta entrada primária de nipônicos, Coreanos e posteriormente Chineses, somado a outros povos que tem uma tendência menor a migrar para um país de língua portuguesa. Nesta visão que nos apegaremos de forma geral, ao corpo magro, baixo e de olhos puxados, podendo ter cultura lida como trabalhadora, exótica e de religião não cristã ou católica.

Retirado o ponto mais teórico da frente, o objetivo de contribuir com a discussão pouco referenciada, porém existente de construir essa identidade de luta para um lugar definitivo como uma terceira leitura racial, A amarela. O que se briga no final das contas é a necessidade de representação, um direito a reclamar de um tratamento histórico que te coloca entre aceitar a opressão ou ser ignorado como parte de uma minoria notória dentro da construção Brasileira como sociedade. 

O modelo de bom estrangeiro sempre foi amigo de uma lenta inclusão dos primeiros imigrantes que vieram para suas colônias. Entretanto o isolacionismo tem seu preço, a silenciosa xenofobia ou a absorção destas pessoas como eternos “estranhos” a terra, podemos ter crescido, enriquecido e ter família, mas muito comum ser tratado como se tivesse recém chegado se não demonstrar seu alto e claro Português sem sotaque.

O Humor sempre foi usado como a forma de “enturmar” os desconfiados imigrantes de olhos puxados e língua diferente, assim foram montado os primeiros estereótipos dos nossos antepassados, o problema é repetir eles até hoje após mais de século de adaptação e integração; Os traços de trabalhador e honestidade tem fundamento, entretanto isso não ser dado como um traço racial, além dos estigmas sexuais que nada ajudam a definir sua sexualidade e o objetivo final deste texto que é dizer qual o meu lugar se eu não sou nem branco e nem deslocado no racismo estrutural negro?

É estranho definir o modo como as pessoas te tratam, muito sério ou de forma muito genérica, o extremo do impacto de que os traços causam nas pessoas ao redor, o contexto de estar e não estar integrado as conversas, a recepção mista de querer respeitar tua descendência ou tratar como se uma característica física te clonasse em outros que não tem o mesmo tamanho, peso e corte de cabelo.

Uma das grandes problemas é que toda vez que se pensa em personagens asiáticos brasileiros é a necessidade de inseri-los em contexto familiar dramático ou preso a sua cultura, isso é representação, porém não abraça as gerações mais jovens que são apenas pessoas integradas e que estão vivendo a mesma vida e os mesmo problemas fúteis da classe média preocupada com a traição da mulher, a chatice do emprego ou em conquistar o amor.

Enfim falei tudo isso, antes de me apresentar como Erick, um asiático brasileiro de 31 anos em plena SP, terra da maior colônia nipônica do país e que como muitos outros famosos e anônimos ainda vivem neste limbo de aceitação e estranhamento de um Brasil que parece com dificuldade de enxergar algo além de preto e branco sobre a pele.

 

Fim do artigo 1.

Sobre este povo amarelo e porque assumir o nome.

 

Esta é uma daquelas histórias longas que você tem que entender para explicar e conseguir quebrar uma barreira, este desafio é quebrar a noção de cor sobre alguém de olho puxado, em resumo a definição de amarelo é sobre a classificação que surge para definir estes povos exóticos do oriente e que não serão brancos, deste raciocínio surge o ”amarelo” como representação dos chineses, coreanos e Japoneses, os civilizados frente aos seus pares como malaios, indonésios, tailandeses que também são julgados pelo tom de pele mais escuros. 

O mais maluco é pensar que a definição de amarelo para ocidentais em algum grau é o tom de pele das criações de Matt Groening: Os Simpsons e Futurama, como algo que parece uma piada inocente, entretanto carrega a inexistência de poder afirmativo de raça, se numa publicação de Facebook sobre amarelos, o argumento “engraçadinho” é que o povo amarelo é a família de Homer Simpson, exemplo clássico de família norte americana cheio de vícios e estereótipos.

O mais importante é que em algum momento poderemos reverter o conceito de filhos de amarelos viram brancos, é possível entender que o medo de exclusão e de perseguição levou a se esconder, mas agora com uma sociedade plural apesar de discriminatória, termos direitos de nos afirmar como de fato nos somos lidos, a terceira via com nossos problemas de identificação e que fazemos parte de todo o processo do que se chama cultura Brasileira e seus hábitos.

Outro ponto é que desconstruir falácias que servem de ataque indireto ou de demarcação de estereótipos que refletem o passado, Asiáticos Brasileiros foram e ainda são trabalhadores comuns como os feirantes da piadinha “Pastel de Flango”, isso não devia ser utilizado no tom que se usa na internet, além dos clássicos sobre a potência da “espada” do oriental como sinal da sua menor força como homem ou na visão sexualizada sobre jovens orientais, ligadas a prostituição ou exotismo. Ainda sobre outras visões como o chinês sugerido como ladrão, desonesto, a matemática ligada aos japoneses e o mito de que os orientais são ladrões de vagas, há muitos destes movimentos que tentam caracterizar todos os asiáticos brasileiros em certas caixinhas.

A questão educacional na Ásia é uma questão dura, o que não significa que a construção de certos paradigmas sejam verdadeiros no brasil, entre eles o conceito de “tubarão” de vestibular é como uma falácia repetida como se fosse um código que nem é verdadeiro, afinal a maioria que vai passar se enquadra entre Branco e as conquistas raciais de negros e indígenas, Orientais marcam sua presença pela cultura escolar de enviar seus filhos a faculdade, nem sempre tirando vagas de “brasileiros”.

A construção de uma identidade como brasileiro e admitir que é natural ser diferente, ser a terceira via de uma visão racial seria interessante para poder dialogar com esta cultura que agrega a cultura nacional, além de ter particularidades que são mais valorosas que qualquer estereótipo ultrapassados que já citamos neste texto.

A noção de respeito e integração seja o fator mais importante em que mesmo sendo uma minoria, reconhecer um padrão de um grupo amarelo que existe e apresenta demandas sociais, uma campanha de novos e melhores comportamentos em relação á representação na mídia e uma tipificação contra discriminação pelos traços como olhos puxados, descendência do leste Asiático e sotaques diferentes.

Fim do artigo 2

 

Quebrar o silêncio sobre os dramas dos asiáticos Brasileiros.

 

Por mais que se discuta nestes artigos sobre uma nova visão racial sobre este grupo de minoria em teoria bem visto ou aceito como estrangeiros integrados a sociedade brasileira, o que dizer sobre representatividade como um fator real sobre esta noção que pode parecer ilusória, por que tratamos ainda como um tema exótico a presença de um ator de descendência oriental e isso demandar toda um fundo histórico e não aparecer integrado como a normalidade do cotidiano, estamos presos ainda no século 20 e  o drama migratório das guerras mundiais e do mundo pós 1945 ?

O que falta aos autores da literatura e do audiovisual é entender que existem narrativas que não envolvem o peso da tradição sobre os descendentes, muito do que se deseja pela comunidade é criar um campo saudável de representação na TV sem o excesso de zelo pela cultura ou ignorar e atribuir a cultura branca à existência de asiático do Brasil, status social não quer dizer que os valores sejam iguais.

O medo de causar um desrespeito à cultura tanto quanto à comunidade faz com que as vagas em elenco para jovens e veteranos amarelos sejam raras pelo contexto de certas personagens não se encaixam ao perfil de asiáticos. O impulso a normalização de pessoas pretas em diversos locais da sociedade, do pobre ao rico, é interessante como a pressão antirracista tem seu peso na hora de criar histórias Brasileiras; o que parece complexo é estes mesmos autores encaixarem outras minorias seja de forma a outros núcleos secundários, a questão de apresentar uma pessoa de aparência Árabe, leste asiática, Indiana, e Indígena sem causar com a falta de profundidade ou em um lugar de humor que possa ofender as pessoas representadas.

 O fato é que não existe reserva de espaço na tela, entretanto o que poderia ser feito é criar com mais amplitude obras que abraçassem uma diversidade de raças com mais naturalidade. Os dramas de um jovem asiático brasileiro podem ser interessantes, descolonizar as temáticas e evoluir para os problemas de hoje como a xenofobia, os medos de uma geração que já é brasileira que não depende deste sentimento de comunidade fechada para se realizar na vida pessoal; temos amigos, conexões profissionais não ligadas a raça, historias de amor que passam as questão interraciais e profundas reflexões sobre vivências no Brasil.

O próximo passo nesta disputa por espaço seria ser reconhecido com mais frequência como parte importante do processo de representação de pessoas que vivem no brasil. Uma disputa justa em conceber a nossa própria imagem como além do que nos estereotipam mundo a fora, ser justo como minoria é difícil ter uma novela para chamar de sua, entretanto conquistar papeis antes monopolizados por Brancos e isso fala mais sobre a falaciosa de democracia racial se temos dificuldade de inserir todos os tipos de imigrantes que vieram compor o quadro do que se pode chamar de brasileiro.

 É isso, pessoal

Até a próxima 




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